Dor muscular tardia

E que é que nunca sentiu aquele desconforto muscular depois dos exercícios, principalmente após a execução de um padrão de movimento diferente daquele ao qual se esta acostumado?


     Pois então, esse desconforto é denominado de "dor muscular tardia", justamente caracterizado pela sensação de desconforto e/ou dor na musculatura esquelética, que ocorre algumas horas após a realização de algum exercício físico, ao qual não estamos acostumados (de sujeitos iniciantes à avançados), ou que elevamos a intensidade (sujeitos avançados). Segundo uma revisão de literatura realizada por Valmor Tricoli, a dor não se manifesta até determinado momento, mas aumenta sua intensidade nas primeiras 24 horas e alcança o seu pico de intensidade entre 24 e 72 horas. Após esse período, há um declínio progressivo na dor, de modo que, em até sete dias após a carga de exercício, ela desaparece completamente.

Mas afinal, o que poderia explicar o surgimento desse processo doloroso?

     Apesar da grande quantidade de estudos, ainda são desconhecidos os exatos mecanismos responsáveis pelo surgimento da dor muscular tardia. Algumas teorias propõem dano físico causado pelo aumento da tensão no aparelho contrátil (principalmente nas contrações excêntricas onde a quantidade de força desenvolvida é, aproximadamente, duas vezes superior à força desenvolvida durante contrações isométricas; no entanto, o número total de pontes cruzadas ativas é somente 10% maior, resultando numa tensão elevada na estrutura muscular e num exercício de alta intensidade), acúmulo de produtos metabólicos, dano estrutural aos tecidos (causado pelo aumento da temperatura muscular) e controle neuromuscular alterado como os possíveis fatores envolvidos na etiologia da dor muscular tardia. No entanto, Tricoli em sua revisão discute a hipótese de que os danos causados à estrutura muscular, devidos à prática de contrações musculares de alta intensidade, desencadeiam uma resposta inflamatória (caracterizada pela movimentação de fluidos, de proteínas plasmáticas e de leucócitos, em direção ao tecido afetado), a qual é a principal responsável pela dor tardia no grupo muscular exercitado.

E o que poderia ser feito para minimizar o desenvolvimento da dor muscular tardia?

      Devemos enfatizar que o treinamento físico periódico e altamente específico é ainda a melhor solução para tal problema, sendo que, o mesmo pode muito provavelmente aumentar a resistência da fibra muscular ao dano estrutural, consequentemente prevenindo e/ou amenizando o desenvolvimento do processo inflamatório. Entretanto, quando o sujeito submetido ao esforço físico é o iniciante, deve-se levar em consideração também seu nível de condicionamento físico, sendo aconselhável prescrever exercícios com grau de dificuldade reduzido, fazendo uso de cargas leves a moderadas, para que desse modo o sujeito iniciante possa se adaptar à novos padrões de movimentos com o mínimo desconforto muscular possível.

Tricoli, W., Mecanismos envolvidos na etiologia da dor muscular tardia. Rev. Bras. Ciên. e Mov. 9 (2): 39-44, 2001.
Roberto Poton